Artigo recentemente publicado, sob o título “Ampliação da pista não decola??? destacou o tempo consumido na modernização do Aeroporto Salgado Filho. Há mais de 18 anos se espera a extensão de 920 metros de pista.
A capacidade do brasileiro de criar obstáculos é impressionante. Há 10 anos participei de audiência pública onde foi dito que o Salgado Filho, com pista mais longa, estaria operando em 2016. Todos sabem o que (não) aconteceu. O que mais se “construiu???nesse período foram obstáculos ao prolongamento da pista.
O consumidor segue pagando a tarifa de embarque mais cara do mundo para não ter pista. Estamos longe das aeronaves de grande porte. Não pousam no Salgado Filho. Têm novas tecnologias. Custam milhões. Precisam rentabilizar. Para isso devem decolar lotadas de passageiros e, principalmente, de carga.
O presidente da Câmara de Infraestrutura da Agenda 2020, Paulo Menzel, no mesmo artigo, declarou que “não dá para discutir a construção de um novo terminal sem falar em melhorias para o Salgado Filho??? Aleluia! Eis alguém que pensa com realismo. Nada contra a construção de outro aeroporto, mas, antes, é preciso melhorar o que já existe. No primeiro mundo leva-se 25 anos para construir um aeroporto. No Brasil levará o dobro e custará o triplo. Exemplos não faltam. No Brasil, em menos de 40 anos não sai aeroporto. Vamos ficar 40 anos sem pista? E o “custo Brasil??? A refinaria Abreu e Lima, orçada em 2, já custou 22 bilhões de reais. E não está pronta. E o metrô? E a ponte?
Entre a falta de gestão técnica e o excesso de amadorismo, os passageiros sofrem; os empresários perdem. O Estado perde. O que será mais viável, custará menos, terá menor probabilidade de desvios de recursos, e levará menor tempo para construir, no Brasil? Um quilômetro de pista? Ou um novo aeroporto, ao custo de bilhões, enfrentando obstáculos, licitações, corrupção, ambientalistas, lobistas? A quem interessa o atraso e o sucateamento do Aeroporto Salgado Filho?
O contribuinte sabe a resposta. A realidade adverte: enquanto planejam o novo aeroporto, salvem o Salgado Filho! A sociedade agradece.
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[b]Salgado Filho. Pista ou terminal?[/b]
Cláudio Candiota Filho
A maior empresa brasileira segue afundando, vítima do câncer conhecido como loteamento de cargos. O governo federal conseguiu perder dinheiro com petróleo, proeza digna do livro mundial de recordes. Lê-se nos jornais: “Governo busca saída para evitar que crise com escândalo da Petrobras afete o sistema financeiro??? “empreiteiras só terão acordo se confessarem novos crimes, diz procurador??? Antes, a presidente Dilma Rousseff (PT) havia consultado o procurador, pois temia que os novos nomeados para os 39 cargos velhos (outro recorde) pudessem ter sido “nomeados???pelo procurador. Mas, o que tem isso a ver com a pista do Salgado Filho? Simples: o aeroporto é vítima do mesmo câncer: loteamento de cargos. Leia-se amadorismo. Se o maior dos leigos tiver de decidir entre terminal e pista, decidirá pela pista, pois aviões não pousam em terminais.
??sabido que o Salgado Filho precisa urgentemente de mais 920 metros de pista, a fim de permitir o transporte de carga que hoje segue via rodoviária para embarcar em São Paulo. No entanto, o ministro Eliseu Padilha (PMDB), que já fez as mais contraditórias declarações, decide “dobrar???a capacidade do terminal, cuja “demanda de hoje é 54%??? e adiar a extensão da pista, impedindo, inclusive, que os passageiros possam ter acesso a aeronaves mais novas e confortáveis. O aeroporto, cuja capacidade se “esgotaria em 10 anos??? segundo o secretário da Aviação Civil, agora tem pista em “condições de atender a demanda até 2030???
Vamos esperar até lá para ter conforto nos aviões? O ministro parece estar mal informado. O loteamento de cargos pode ter atingido sua secretaria. Convém trocar a militância por engenheiros civis, pois, do contrário o resultado é certo. Olhem a Petrobras! Se uma empresa de petróleo sucumbiu ?? má gestão, dá para entender o que está acontecendo com a Infraero e os aeroportos. Certamente terão igual destino. Aparentemente, há uma queda de braço entre o interesse público e o privado em torno do Salgado Filho. O interesse público requer que a pista seja estendida em 920 metros. Até aqui tem prevalecido o interesse privado. Depois, não reclamem das sucatas!
Originalmente publicado em: Jornal do Comércio/RS em 20/01/2015
Claudio Candiota Filho, Advogado;
Presidente da ANDEP – Associação Nacional em Defesa
dos Direitos dos Passageiros do Transporte Aéreo;
Membro da Comissão Especial de Defesa do Consumidor da OAB/RS.